terça-feira, 16 de março de 2010

Vejo a floresta, mas não vejo a sua alma!

Vejo uma floresta enorme de cima, mas não vejo a sua alma. Não sei a variedade de árvores, do que cada uma delas é capaz, dos seres que elas abrigam, das intempéries que enfrentaram para sobreviver. Como julgar a floresta então? Como emitir uma opinião segura sobre ela? Digo que a acho linda, vasta, cheia de vida. Mas isso não basta para descrevê-la e julgá-la.
Vejo um rio enorme, lindo em seu formato, e tal qual a floresta em que ele está, também não consigo ver sua alma. Não sei o quanto de vida há nele, quantas esperanças navegaram em suas águas, quantas vidas ali se perderam por não saberem lidar com ele, quantos seres o amam por dele tirar o sustento ou simplesmente o prazer de passar por ele. Também não sei quantas vezes ele mudou o seu formato em função da força da natureza que o abriga. Como julgá-lo com propriedade?
Além disso, daqui de cima, de dentro do pequeno avião em que estou, ainda encontro algumas nuvens que me atrapalham a visão e fazem com que qualquer opinião minha se torne ainda mais parcial, ínfima diante dos detalhes que sei que existem, apesar de não vê-los.
Nos últimos dias, meu time de futebol tem sofrido julgamentos comparáveis ao julgamento que posso fazer da floresta e do rio.
A noiva do Adriano fez barraco com ele. Muita gente viu. E tanto quem viu como quem só ouviu falar se sentiu no direito de julgar ambos. Mas ninguém sabe o que vai na alma de cada um deles, suas carências, seus momentos juntos, o quanto cada um contou com o outro seja lá pro que for, sua capacidade e vontade de superar as raivas que vierem pela frente. A gente simplesmente julga, faz um diagnóstico, sem nunca ter vivido algo como o antes ou o durante daquele relacionamento.
Tanto o Vagner Love como o próprio Adriano foram vistos em favelas. E mais uma vez, julgam-se a floresta e o rio. E alguns julgam cruelmente: se vai à favela é porque sempre será um favelado, se nao vai é porque não valoriza as origens humildes. Mas quem sabe dizer os percalços que cada um enfrentou pra chegarem onde chegaram e quais os amigos que realmente os apoiaram ao encarar de frente as tempestades da vida? Mais fácil julgar o Love por ter sido escoltado por traficantes do que lembrar que os traficantes só estão ali, não porque há um jogador de futebol na favela, mas porque fomos incompetentes ao eleger nossos governantes que tem uma polícia igualmente incompetente pra acabar com a bandidagem. A hipocrisia é uma nuvem grossa que nos cega.
O Bruno, coitado, deu uma declaração infeliz em defesa do amigo. Mas vai lá ser pressionado numa entrevista pra ver se o pensamento não embaralha, se o português correto não desanda, se você não é capaz de falar coisas das quais pode se arrepender. Não atiro essa pedra nele, não, apesar de ser contra a atitude que ele defendeu. Julgo apenas o que ele disse, mas não posso tomar o rio todo pela única curva que eu vi.
Mais cedo, vi um blogueiro escrever que todo flamenguista é marginal. Cheio de preconceitos, rancor e ódio por algum recalque ou situação vivida ou vista em algum lugar, ele julgou toda uma Nação. Julgou a floresta inteira por algumas árvores. Pura ignorância!
Enfim, como flamenguista assumidíssima, dei exemplos do time que amo, já pedindo desculpas aos amigos que torcem por outros times por não citá-los aqui também. A floresta é grande demais e realmente não me sinto competente para julgar a sua alma...