terça-feira, 3 de outubro de 2017

Eu não nasci de óculos, mas já paguei mico por causa deles

         
          Eu uso óculos desde os meus sete anos de idade. Ou seja, tenho poucas lembranças da parte da minha vida em que eu não usava óculos e me lembro de muitas histórias ligadas a esse objeto.
            Certa vez, quando eu tinha mais ou menos uns dez a doze anos, eu tinha que estudar alguma coisa da escola e – lógico! – precisava dos meus óculos para isso. Mas cadê? Não me lembrava onde eu os havia guardado.
            Procura daqui, procura dali, na sala, no meu quarto, no quarto dos meus pais, no quarto da minha irmã mais velha, na cozinha... Comecei a fazer cara de choro, expressão de desespero! Precisava de ajuda para achar meus óculos! Achei que, como enxergo bem menos sem eles, talvez tivesse passado por eles em algum cômodo da casa, mas não tivesse conseguido enxergá-los.
            ─ Mãe, você viu os meus óculos por aí? Irmã? Irmão? Por favoooooor, me ajudem! – Eu implorava com voz de choro! – Eu preciso dos meus óculos para estudar!
            Todo mundo ficou compadecido do meu desespero e toca de todo mundo me ajudar! Procuraram em cima dos móveis, embaixo dos móveis, atrás dos móveis... Procuraram dentro dos armários, dentro da mochila da escola, na varanda, no quintal... Minha irmã até sugeriu procurarem dentro da casinha da cachorra, já que era um dos únicos lugares em que ninguém foi procurar!
            Minha avó, bem velhinha, acabou acordando de um cochilo com aquela movimentação toda e resolveu entender o que estava acontecendo.
            ─ Vocês estão procurando o quê?
            ─ Meus óculos, vó! Preciso dos meus óculos para estudar e não estamos achando em nenhum lugar! A senhora viu por aí?
            ─ Seus óculos?! – Notei que ela disfarçou um sorrisinho. – Mas não são esses que estão bem na sua cara?!
            Tateei o meu rosto. Todo mundo olhou pra mim. Eu estava usando os óculos!! Estavam comigo o tempo todo! Minha mãe e meus irmãos quiseram brigar comigo pela trabalheira que dei a eles, mas minha avó me defendeu:
            ─ Estão brigando com ela por quê? Todo mundo olhou pra ela e ninguém viu também!

            A gente acabou rindo e eu fui estudar. Minha família, por muito tempo, usou essa história real para implicar comigo! Hoje em dia, o primeiro lugar onde procuro os meus óculos é no meu próprio rosto... Quem conhece a história, entende por quê.