Certa vez, quando eu tinha mais ou
menos uns dez a doze anos, eu tinha que estudar alguma coisa da escola e –
lógico! – precisava dos meus óculos para isso. Mas cadê? Não me lembrava onde
eu os havia guardado.
Procura daqui, procura dali, na
sala, no meu quarto, no quarto dos meus pais, no quarto da minha irmã mais
velha, na cozinha... Comecei a fazer cara de choro, expressão de desespero!
Precisava de ajuda para achar meus óculos! Achei que, como enxergo bem menos
sem eles, talvez tivesse passado por eles em algum cômodo da casa, mas não
tivesse conseguido enxergá-los.
─ Mãe, você viu os meus óculos por
aí? Irmã? Irmão? Por favoooooor, me ajudem! – Eu implorava com voz de choro! –
Eu preciso dos meus óculos para estudar!
Todo mundo ficou compadecido do meu
desespero e toca de todo mundo me ajudar! Procuraram em cima dos móveis,
embaixo dos móveis, atrás dos móveis... Procuraram dentro dos armários, dentro
da mochila da escola, na varanda, no quintal... Minha irmã até sugeriu
procurarem dentro da casinha da cachorra, já que era um dos únicos lugares em
que ninguém foi procurar!
Minha avó, bem velhinha, acabou
acordando de um cochilo com aquela movimentação toda e resolveu entender o que
estava acontecendo.
─ Vocês estão procurando o quê?
─ Meus óculos, vó! Preciso dos meus
óculos para estudar e não estamos achando em nenhum lugar! A senhora viu por
aí?
─ Seus óculos?! – Notei que ela
disfarçou um sorrisinho. – Mas não são esses que estão bem na sua cara?!
Tateei o meu rosto. Todo mundo olhou
pra mim. Eu estava usando os óculos!! Estavam comigo o tempo todo! Minha mãe e
meus irmãos quiseram brigar comigo pela trabalheira que dei a eles, mas minha
avó me defendeu:
─ Estão brigando com ela por quê?
Todo mundo olhou pra ela e ninguém viu também!
A gente acabou rindo e eu fui
estudar. Minha família, por muito tempo, usou essa história real para implicar
comigo! Hoje em dia, o primeiro lugar onde procuro os meus óculos é no meu
próprio rosto... Quem conhece a história, entende por quê.