domingo, 26 de janeiro de 2014

O meu estranho apego aos personagens


Eu me apego a alguns objetos, mas não devia. Me apego a pessoas e já não tento mudar isso em mim. E me apego a livros e personagens.

Há livros que me envolvem tanto que prefiro ir lendo devagarinho. A história vai me seduzindo, me conquistando. Vou degustando cada pedacinho, sorvendo os momentos, apreciando cada palavra... Vou lendo os capítulos e cada cena se faz sozinha na minha imaginação. Paro de ler um pouquinho e fico pensando na história, fico com a cena na cabeça. O filme se criou em mim. 

Dou risadas, vibro, me emociono, choro... Me apego aos personagens e os amo, os odeio, os admiro, juro amor eterno aos meus prediletos!

Em alguns livros isso é tão forte que entro num esquisito dilema: quero terminar logo a leitura para saber qual é o final, mas fico triste porque não quero largar aqueles personagens. 

E, quando termino, sofro de ressaca literária. Adoro ler, mas, se não há um outro livro que continue aquela história, não consigo partir pra outra imediatamente. Tenho que ler, em seguida, algum livro sem história, sem personagens, dar um tempo pro meu coração desapegar ou lidar com a distância e se preparar para novos apegos.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Gente por aí, na minha vida


Tem gente que eu gostaria de simplesmente não ter conhecido. Tem gente que eu gostaria que as pessoas que eu amo não tivessem conhecido também. Já sentiu isso? 

Mas tem gente que nós conhecemos e pensamos: onde andava você esse tempo todo, que eu ainda não conhecia?! 

Já parou pra pensar que bobagem isso que nós pensamos ou dizemos? Porque lá atrás, no nosso caminho, nós não éramos exatamente o que somos agora. Idem aquela pessoa! Alguns reencontros são bons justamente por isso. Porque tem gente que muda pra melhor! E damos a sorte de cruzarmos - ou reencontrarmos! - com essas pessoas no momento afim das evoluções.

Adoro isso! Descobrir pessoas com afinidades, cheias de pensamentos e valores parecidos o suficiente para gerar conversas maravilhosas e diferentes o bastante para as conversas não caírem na monotonia. 

A vida não fica com um sabor especial com essas pessoas? Aquelas que nos fazem rir, que nos emocionam, nos fazem refletir e, às vezes, até mudar de opinião e mudar mais um pouquinho, pra logo ali, mais adiante, encontrar mais gente especial em algum ponto de evolução parecido com o nosso...

É assim que vamos colhendo gente especial pro nosso álbum da vida. Aqueles que, em algum ponto do nosso tempo, percebemos que podemos chamar de amigos.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Blergh! Doce de jaca!


Eu odeio jaca. ODEIO! Não me interessa se é jaca mole ou jaca dura. Simplesmente odeio. Não suporto nem o cheiro!

Pois bem. Quando eu tinha 16 anos e estava pra me formar no Magistério, namorei um carinha que estava pra se formar na faculdade. O bonitinho me pediu pra ir com ele entregar um convite da sua formatura na casa da tia dele e depois sairíamos. Fui. Fui porque nunca imaginei que isso pudesse representar uma das maiores torturas que sofri na minha vida! Pode parecer exagero - e é! -, mas foi!

Chegamos na casa da tia dele e... surpresa! A criatura era a diretora do colégio onde eu estudava. E me reconheceu na hora! "Mundinho pequeno!" - qualquer um diria! "Droga de mundinho pequeno!" - foi o que eu pensei, na verdade.

Entramos no apartamento dela. E eu sem graçaaaa! Doida de vontade de ir embora, ir pro cinema, pra um barzinho... Qualquer lugar era melhor que a casa da minha diretora, que nos recebeu na sala e nos levou para a copa.

Aí aconteceu! Ela pegou dois pratinhos, abriu um pote com um doce gosmento e com aquele cheiro inconfundível, colocou um pouco em cada pratinho e disse:

- Fiz esse doce de jaca! Comam um pouquinho!

Olhei o prato. Olhei de novo. Prendi a respiração e me lembrei de todas as regras de educação que meus pais - não sei se felizmente ou infelizmente! - me ensinaram. Eu não tinha como recusar. Não devia dizer que o-dei-ooo jaca, então NÃO, OBRIGADA! Só havia uma solução: comer aquela porcaria! 

Então, respirei fundo e comi. Comi rápido. Enchi a porcaria do garfo e comi sem mastigar. Engoli em umas três garfadas pra não sentir o gosto e não vomitar. Tenham orgulho de mim, pai e mãe! Comi doce de jaca e não passei vergonha como visita! Sou um exemplo de menina!

Aí a criatura abominável olhou meu prato vazio, ficou feliz da vida porque comi tudo e soltou:

- Mas já?! - E foi enchendo o meu prato de novo com mais doce de gosma! - Come mais um pouquinho!

E foi naquele dia que compreendi, antecipadamente, como se sentiam os participantes do No Limite quando tinham que comer olho de cabra pra passarem pra próxima fase...

Só conto duas coisas. Um: não comi o doce todo do segundo prato. Pedi um copo d'água e disse que estava de dieta. Dois: o namoro não durou muito tempo. Mas que tipo de namoro é esse que a lembrança maior é o maldito dia em que se é obrigado a comer doce de jaca?! Não valia à pena, né?


sábado, 11 de janeiro de 2014

Aí o relacionamento vira abóbora


A pior parte de um relacionamento - qualquer relacionamento! - não é o fim em si. É o desencantamento! A consciência de que tudo mudou e não foi pra melhor.

Aquela fase em que você não entende bem o que aconteceu, por que aconteceu, qual a sua parte de culpa...

Estava tudo lindo, tudo interessante, tudo frisson e, de repente, você se dá conta de que isso não existe mais. Quando foi que o encanto se perdeu? Quando foi que a vontade de estar perto, de conversar, de dividir o que há de melhor em cada um acabou? Onde foram parar os sonhos e planos que foram imaginados juntos?

Sabe aquela parte em que a carruagem da Cinderela volta a ser abóbora e seu belíssimo vestido de baile vira um farrapo só? É por aí.

Às vezes sobra um sapatinho de cristal sem par pra lembrar da parte boa da história. Às vezes nem isso. Só não vale enlouquecer procurando todas as respostas. Vale, sim, passar numa loja bacana pra comprar uma roupa nova. Os farrapos que sobraram não servem nem pra fazer a faxina mental e emocional necessária.

Flor roubada


Eu era uma adolescente e ele, apenas um ano mais velho que eu, era meu primeiro namorado. Era daqueles namoros inocentes, escondido dos pais, em que poder andar de mãos dadas e beijar na boca era o máximo que queríamos, além de uma pequena dose de romantismo, claro!

O bonitinho de vez em quando passava na minha escola na hora da saída e lá íamos nós, num grupão de amigos, andando pelo caminho até perto de casa, dando as mãos, risinhos e selinhos! Ai de mim se minha mãe descobrisse tamanho assanhamento! 

Sempre passávamos em frente a uma casa com muro e grades baixinhas (Naquela época não era tão perigoso como hoje!), que tinha um jardim lindo. Foi quando a turma toda observou as hortênsias. Absolutamente lindas! As meninas ficaram fascinadas com elas. Inclusive eu.

Ele segurou a minha mão e perguntou: 

- Quer uma? 

Ri e desafiei:

- Quero! 

A galera duvidou, instigou, botou pilha! Ele piscou pra mim e, nem sei explicar como foi direito, só vi ele saltando sobre a grade, arrancando uma das hortênsias com algum esforço (Desconfio que não seja tão fácil arrancar uma hortênsia do jardim, como seria com uma margarida, por exemplo.) e, quando estava pulando a grade de volta pra calçada, apareceu a dona da casa! Uma japonesinha que veio gritando feito louca pelo roubo em seu jardim! 

- Corre, gente! - nem sei quem foi que gritou! Mas todo mundo correu!

- Louco!

- Doido!

Risadas! 

Ganhei a flor! Linda! Azul clarinha. Paguei o romantismo com um beijinho!

A primeira flor que ganhei foi roubada. Quem pode me condenar por lembrar disso com carinho?


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ui, minha filha!

     Acho a maioria das velhinhas fofas! Se sorrirem pra mim, não resisto e sorrio junto! 
     Nesse fim de semana estava aquele sol lindo e fui à praia. Aquele mar lindo, quase uma lagoa, aquelas ondas que não eram nem pra assustar bebê! Mas assustou uma velhinha que estava perto de mim! Eu tinha acabado de chegar na praia e fui dar meu mergulho. Basicão! Cheguei perto da água e vi a velhinha sorrindo. Sorri pra ela e veio a ondinha. Ela olhou pra mim e começou a quase gritar: 
     - Ui, minha filha! Ui, ui, minha filha!
    E eu lá ia adivinhar que a "minha filha" era eu?! A velhinha me segurou pra não cair, junto de um banco de areia e me jogou no chão. Caí de joelhos, ralei a canela e ela se apoiando em mim pra não cair! Ticontá! Só deu tempo de virar o rosto pra nao engolir água. 
       E a cara de pau da velhinha riu e agradeceu: 
        - Obrigada, minha filha! - como se eu tivesse me jogado no chão de propósito pra salvá-la de um tsunami! 
     A partir dali, toda vez que eu ia na água, olhava onde estava a tal velhinha e, por precaução, mergulhava um pouquinho distante. Não vou pro céu!
      Aí hoje fui ao shopping pra pagar as contas do mês e comprar umas coisinhas. Um bom humor danado, entrei no elevador cantarolando pra vir embora e segurei a porta pra duas outras velhinhas. Lógico que sorri pra elas. Tão fofas! Aí uma delas ficou me olhando, olhando e soltou a pérola:
      - Minha filha! - De novo?! Mas será o Benedito? Será que todas as velhinhas do mundo me adotaram e eu nem fui avisada?! - Vc está apaixonada, né? Seus olhos estão contando isso.
        Mas hein?! 
        - Mas de onde a senhora tirou isso, meu Deus?!
       - Minha filha! - De novo! - Eu só tive esse olhar que vc está agora uma vez na vida. - E encheu os olhos d'água! - E vou te contar que minha vida foi feliz por causa disso! E que, com esse olhar aí você também será, até mais que eu!
      Pára tudo! Encontrei uma vidente no elevador? Não consegui nem falar mais nada. Não posso ver ninguém chorar, que eu choro junto! Meus olhos encheram d'água e sorri pra ela. E nem sei o que aconteceu na vida dela... Só sei que ela me emocionou. Vim pra casa com os olhos cheios d'água pensando na emoção da velhinha ao me falar de ser feliz!
        Ah, essas velhinhas! Uma me dá um quase-caldo na praia e a outra um quase-caldo no elevador... Mas não tem jeito, não. A próxima que eu encontrar, vai receber meu sorriso de novo. Seja onde for.